Artigo do Pr.Carlos Souza

28-10-2025

IGREJA X MAÇONÁRIA

Pr.Carlos Souza

Em termos gerais o envolvimento da Maçonária com o inicio das Igrejas Protestantes no Brasil é histórico, e não há como negar este fato. No Brasil, o Protestantismo e a Maçonaria tiveram um envolvimento histórico significativo e colaborativo, principalmente a partir do século XIX, quando a Maçonaria apoiou a consolidação do movimento protestante. Isso ocorreu porque a Maçonaria defendia os ideais de progresso e educação, alinhando-se aos valores protestantes e ao liberalismo da época, enquanto a Igreja Católica mantinha uma posição contrária a ambas. Diversos pastores e missionários protestantes da época também eram maçons, fortalecendo essa ligação e gerando o apoio da Maçonaria para as primeiras igrejas protestantes no Brasil.

Os historiadores que analisam a relação entre Maçonaria e Protestantismo, especialmente no Brasil do século XIX, defendem uma tese de aliança pragmática e política, e não de compatibilidade teológica ou de fé.

Eles não afirmam que a Maçonaria é compatível com a doutrina protestante, mas sim que as duas instituições tinham interesses em comum que as levaram a colaborar uma com a outra.

O Que a Historiografia Defende sobre a Aliança

A principal linha de argumentação, notadamente defendida pelo historiador brasileiro David Gueiros Vieira em sua obra O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, é a da "aliança liberal-maçônica-republicana" com os protestantes.

1. Inimigo Comum: A Hegemonia da Igreja Católica

O Brasil Imperial tinha a Igreja Católica como religião oficial do Estado (sistema de Padroado). Isso significava que:

  • Protestantes: Não tinham plena liberdade religiosa e enfrentavam restrições legais e sociais.

  • Maçons: Eram frequentemente de tendência liberal e laica, desejando reduzir a influência da Igreja Católica na política e na sociedade.

A aliança, portanto, foi uma união de forças para combater o poder católico hegemônico e o sistema de Padroado, buscando a separação entre Igreja e Estado.

2. Pautas Políticas e Sociais Comuns

Os historiadores apontam que Maçons e Protestantes compartilhavam objetivos liberais e humanitários na esfera pública, destacando:

  • Liberdade de Consciência: Os maçons, defensores do livre pensamento e da tolerância religiosa, apoiavam a causa dos protestantes para que pudessem exercer sua fé abertamente.

  • Avanços Legais: Maçons com influência política (como o Visconde do Rio Branco) ajudaram os protestantes a obter vitórias legislativas importantes, como a legalização do casamento civil (que era essencial para os não-católicos) e a permissão para a publicação e distribuição da Bíblia e da imprensa evangélica no país.

3. A Maçonaria como Ambiente de Articulação

A Maçonaria serviu como um ambiente de sociabilidade liberal onde líderes e intelectuais protestantes (em especial ministros de algumas denominações) e maçons podiam se encontrar e articular pautas políticas sem a vigilância do clero católico ou do Estado.

O Rompimento da Aliança

Os historiadores também documentam que essa aliança não se manteve. Quando a República foi proclamada e a liberdade religiosa foi alcançada (grande parte do objetivo da aliança), o foco mudou da política para a doutrina.

Muitas igrejas protestantes, notavelmente a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), começaram a debater se um cristão poderia, de fato, conciliar a fé em Cristo (e a salvação pela graça) com os princípios da Maçonaria (e a salvação pelas obras/moralismo). Este debate levou a grandes divisões internas e, eventualmente, à condenação da Maçonaria por parte de muitas denominações protestantes. Em suma, os historiadores defendem que existiu uma aliança política e liberal no século XIX, mas não uma aceitação doutrinária da Maçonaria pelo protestantismo.

A Relação entre Maçonaria e Protestantismo no Brasil:

  • Apoio mútuo:

    A Maçonaria, com sua forte influência na sociedade e no Estado brasileiro, foi fundamental para o estabelecimento e a consolidação do Protestantismo no país, especialmente em um período em que o Catolicismo era a religião oficial do Estado.

  • Interesses comuns:

    A Maçonaria e o Protestantismo compartilhavam ideais de progresso, educação, liberdade e desenvolvimento econômico e científico, os quais foram levados ao Brasil, muitas vezes, através de imigração germânica e anglo-saxônica.

  • Participação de líderes religiosos:

    Líderes e missionários protestantes, como Robert Porter Thomas e Salomão Luiz Ginsburg, foram maçons e fundamentais para o estabelecimento das primeiras igrejas protestantes no Brasil, fortalecendo a conexão entre as duas instituições.

  • No Brasil pastores metodistas, batistas e presbiterianos se envolveram com a Maçonaria no Brasil, e não é apenas especulação, havendo registros históricos e documentos que atestam essa ligação, embora hoje existam posicionamentos eclesiásticos mais restritivos. O envolvimento variou ao longo do tempo, desde a fundação de lojas maçônicas por pastores até a colaboração financeira para a construção de igrejas por membros maçons.

Envolvimento Histórico:

  • Metodistas:

    No Rio Grande do Sul, houve um envolvimento de pastores metodistas com lojas maçônicas, com interesse na fundação dessas lojas e na distribuição de publicações maçônicas.

  • Batistas:

    O primeiro pastor batista brasileiro, Robert Porter Thomas, foi maçom, e o missionário Salomão Luiz Ginsburg fundou uma Loja Maçônica e, posteriormente, uma Igreja Batista, com apoio financeiro de outros maçons.

  • Presbiterianos:

    Houve um racha na Igreja Presbiteriana devido ao envolvimento de alguns pastores com a Maçonaria, o que levou à criação da Igreja Presbiteriana Independente.

    • Conflito com o Catolicismo:

      Enquanto a Igreja Católica condenava a Maçonaria por seus princípios e defendia o monopólio religioso do Estado, as igrejas protestantes, mais liberais, acabaram por encontrar na Maçonaria um aliado na luta por liberdade de culto e expansão de sua doutrina.

    Posicionamento das igrejas e a Maçonaria:

    • Igreja Católica:

      A Maçonaria foi formalmente condenada pela Igreja Católica em diversos momentos, com o Papa Pio IX e, mais tarde, a Doutrina da Fé reafirmando a incompatibilidade da filiação maçônica com a fé católica.

    • Igrejas Protestantes:

      As igrejas protestantes geralmente não adotam uma posição oficial de condenação. No entanto, algumas denominações, como a Igreja Metodista, já sinalizaram para a incompatibilidade entre a fé cristã e a maçonaria, embora não haja um consenso unânime.

    Maçonaria não é uma religião em si, mas uma sociedade que admite pessoas de diferentes credos, e no Brasil, ela teve uma participação crucial no apoio e na expansão do Protestantismo, criando uma forte ligação histórica entre as duas instituições. A incompatibilidade entre ser cristão e maçom é um tema complexo e a principal razão para a condenação por parte de diversas igrejas cristãs, incluindo a Igreja Católica, reside na visão de que os princípios e ensinamentos da Maçonaria são inconciliáveis com as doutrinas essenciais do Cristianismo.

    A seguir, estão os principais pontos levantados por aqueles que condenam a filiação de cristãos à Maçonaria:

    1. Concepção de Deus (O Grande Arquiteto do Universo)

    • A Maçonaria exige a crença em um Ser Supremo (geralmente referido como o "Grande Arquiteto do Universo" - G.A.D.U.) e a imortalidade da alma, mas é propositadamente superconfessional ou religiosamente neutra.

    • Para muitas denominações cristãs, essa visão genérica de Deus contradiz a fé cristã, que afirma a revelação de Deus em Jesus Cristo como o único caminho para o Pai (João 14:6). A Maçonaria, ao tratar todas as religiões como caminhos igualmente válidos para Deus, enfraquece ou nega a exclusividade de Cristo como Salvador.

    2. Doutrina da Salvação (Salvação pelas Obras)

    • A Maçonaria enfatiza o moralismo, o aperfeiçoamento pessoal, a caridade e o esforço humano como meios para o crescimento e a elevação espiritual.

    • O Cristianismo, por outro lado, ensina que a salvação é pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9), e não pelas obras, embora as obras de caridade sejam a consequência da fé. A ênfase maçônica no esforço próprio é vista como uma contradição à doutrina cristã da suficiência da obra de Cristo.

    3. Compromissos e Juramentos

    • A Maçonaria envolve a participação em rituais e a prestação de juramentos de segredo e lealdade à fraternidade, muitas vezes sob pena de castigos simbólicos.

    • Alguns cristãos citam passagens bíblicas, como as de Mateus 5:34-37, que desaconselham juramentos, especialmente os secretos e vinculativos. O compromisso de ajudar e proteger um maçom a todo custo, mesmo que suas ações não sejam corretas, também é visto como um conflito com o dever cristão de promover a justiça e a verdade.

    4. A Proibição da Igreja Católica

    A Igreja Católica tem um histórico de forte condenação à Maçonaria, remontando ao século XVIII (com a bula In eminenti apostolatus specula do Papa Clemente XII em 1738) e reiterada em documentos posteriores.

    • Declaração de 1983: A Congregação para a Doutrina da Fé, sob o Cardeal Ratzinger (futuro Papa Bento XVI), declarou que o parecer negativo da Igreja permanece imutável porque os princípios da Maçonaria são inconciliáveis com a doutrina da Igreja.

    • Pecado Grave e Comunhão: A Declaração de 1983 afirma que os fiéis que se inscrevem em associações maçônicas "estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão."

    Em resumo, a principal preocupação é que a Maçonaria, ao oferecer um caminho espiritual e moral que é diferente ou substituto do caminho cristão, exige uma dupla fidelidade que é incompatível com a devoção exclusiva a Jesus Cristo e à Sua Igreja. Como Jesus ensinou que "ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6:24), o cristão é instado a escolher um único mestre e caminho.

    Maçonaria contraria o Cristianismo Protestante e sua doutrina teológica em pontos fundamentais.

    Embora historicamente tenha havido cooperação (especialmente no Brasil do século XIX, por razões políticas), as grandes denominações protestantes, particularmente as mais conservadoras e as pentecostais/neopentecostais, consideram a Maçonaria incompatível com a fé cristã.

    A incompatibilidade não se baseia em caridade ou política, mas em questões de doutrina central.

    Principais Pontos de Contradição Doutrinária

    1. Doutrina da Salvação (Soteriologia)

    Este é o conflito mais fundamental para o Protestantismo, que é centrado na doutrina da Justificação somente pela Fé (Sola Fide):

    Doutrina Cristã Protestante

    Doutrina Maçônica (Geral)

    Contradição

    Salvação pela Graça e Fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9). Jesus é o único mediador.

    Ênfase no aperfeiçoamento moral do indivíduo (o "pedra bruta") por meio de obras e rituais.

    A Maçonaria prega um caminho de salvação ou aperfeiçoamento moral que ignora ou minimiza a necessidade da obra redentora de Cristo e a doutrina da Graça.

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    2. Visão de Deus (Teologia)

    Doutrina Cristã Protestante

    Doutrina Maçônica (Geral)

    Contradição

    Deus é a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). O conhecimento de Deus é revelado por meio de Jesus Cristo.

    Crença no Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.), uma divindade vaga e não-trinitária.

    O G.A.D.U. é um conceito universalista e genérico que permite a adesão de fiéis de qualquer religião monoteísta. Isso nega o exclusivismo de Cristo (Solus Christus) e a natureza revelada do Deus cristão.

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    3. Autoridade da Escritura e Rituais

    Doutrina Cristã Protestante

    Doutrina Maçônica (Geral)

    Contradição

    A Bíblia é a única regra infalível de fé e prática (Sola Scriptura).

    A Bíblia é considerada apenas um dos "Livros da Lei Sagrada" e é tratada como um Símbolo, junto com outros livros sagrados (como o Alcorão), dependendo da Loja.

    Eleva outros escritos à mesma categoria da Bíblia e insere símbolos, juramentos e rituais que não têm base nas Escrituras e são considerados estranhos ao culto cristão.

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    4. Juramentos e Sigilo

    Doutrina Cristã Protestante

    Doutrina Maçônica (Geral)

    Contradição

    Jesus e Tiago desaconselham juramentos, e a lealdade é devida primariamente a Deus.

    Os rituais maçônicos envolvem juramentos solenes (frequentemente com sanções simbólicas) de sigilo e lealdade à Loja, que podem ser vistos como conflitantes com o compromisso de lealdade a Cristo.

    A Maçonaria exige um segredo e uma lealdade que alguns teólogos protestantes consideram incompatíveis com a transparência e o compromisso exclusivo exigidos pelo Evangelho.

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    Em resumo, a Maçonaria é vista como uma religião cívica ou um sistema moral ecumênico que, por sua própria natureza, dilui ou nega as doutrinas centrais do Protestantismo: a Trindade, a divindade e exclusividade de Jesus Cristo, e a salvação somente pela graça e fé. Por essas razões, as igrejas que adotam a visão teológica conservadora rejeitam a filiação de seus membros.

    Teólogos e pastores protestantes

    muitos teólogos e pastores protestantes famosos e historicamente importantes eram Maçons. A filiação era especialmente comum durante a fundação da Maçonaria moderna no século XVIII e durante o século XIX no Brasil e nos Estados Unidos.

    A lista inclui figuras centrais na própria história do Protestantismo e na implantação da fé evangélica no Brasil.

    Pastores e Teólogos Protestantes Maçons Notáveis

    Fundador da Maçonaria Moderna (Século XVIII)

    • Reverendo James Anderson

      • Denominação: Pastor Presbiteriano (Igreja da Escócia).

      • Importância Maçônica: É o autor principal das "Constituições de Anderson" (1723), o documento fundamental da Maçonaria moderna (Especulativa). É a figura mais importante que liga o clero protestante às origens da Ordem.

    Líderes da Fundação dos EUA (Século XVIII)

    • Reverendo John Witherspoon

      • Denominação: Reverendo e filósofo Calvinista.

      • Importância Histórica: Foi o único membro do clero a assinar a Declaração de Independência dos Estados Unidos. A Maçonaria teve um papel central na articulação dos ideais liberais da Revolução Americana.

    Pioneiros do Protestantismo no Brasil (Século XIX)

    A Maçonaria foi um importante aliado político na luta pela liberdade religiosa no Brasil Imperial, o que explica a filiação de muitos pioneiros:

    • Reverendo Richard Ratcliff

      • Denominação: Pastor Batista (missionário americano).

      • Importância no Brasil: Foi o fundador da Primeira Igreja Batista em solo brasileiro, na cidade de Santa Bárbara (SP), em 1871.

    • Reverendo Robert Porter Thomas

      • Denominação: Pastor Batista (missionário americano).

      • Importância no Brasil: Participou da fundação da primeira igreja Batista e é notável por ter sido Maçom.

    • Reverendo Elias Hoton Quillin

      • Denominação: Pastor Batista (missionário americano).

      • Importância no Brasil: Fundou a 2ª Igreja Batista no Brasil e atuou como moderador de Concílio (reunião eclesiástica) realizado no salão de uma Loja Maçônica.

    • Reverendo Álvaro Reis

      • Denominação: Respeitável líder da Igreja Presbiteriana no estado de São Paulo no século XIX. É frequentemente citado como um dos clérigos maçons históricos do Brasil.

    Líderes de Denominações nos EUA (Século XX)

    • George W. Truett

      • Denominação: Famoso pregador da Convenção Batista do Sul nos EUA e seu presidente. Era um Maçom de Grau 32 do Rito Escocês Antigo e Aceito.

    • Norman Vincent Peale

      • Denominação: Famoso pastor Metodista/Reformado e autor do best-seller "O Poder do Pensamento Positivo". Foi um Maçom de Grau 33 (o grau honorário máximo).

    Observação Importante sobre a Filiação

    A filiação desses pastores e teólogos é um fato histórico inegável, mas deve ser vista sob a lente do contexto da época:

    1. Contexto Histórico: No século XVIII e XIX, a Maçonaria era frequentemente vista como uma sociedade de intelectuais, liberais e defensores da tolerância religiosa, alinhada aos ideais do Iluminismo, e não primariamente como uma religião concorrente.

    2. Visão Atual: Atualmente, a grande maioria das denominações protestantes no Brasil e no mundo (incluindo as igrejas das quais estes pastores históricos eram membros, como a Igreja Presbiteriana do Brasil e a Convenção Batista Brasileira) condenam ou proíbem formalmente a participação de seus membros na Maçonaria, devido às contradições doutrinárias centrais (salvação, Trindade e exclusividade de Jesus Cristo).

    O que significa os ritos na maçonaria

    Na Maçonaria, tanto o Rito de York quanto o Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) são sistemas rituais importantes, com o Rito Escocês sendo um dos mais difundidos globalmente.

    O Rito de York e o Rito Escocês na Maçonaria

    Rito de York

    • É o rito predominante na Maçonaria Norte-Americana.

    • A Maçonaria Simbólica (Lojas Azuis - Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre) sob sua égide descende de rituais mais antigos, como o da Grande Loja dos "Antigos" de 1751, sendo, portanto, diferente do Rito de Emulação praticado na Inglaterra após a união de 1813.

    • O Rito de York, ou Rito Americano, é mais propriamente um sistema de corpos maçónicos que inclui, além das Lojas Simbólicas, graus complementares como o do Arco Real e os Graus Crípticos.

    • É considerado por alguns como a forma mais próxima da Antiga Maçonaria original.

    Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA)

    • É um dos ritos mais espalhados pelo mundo.

    • Em Portugal, foi introduzido nos três primeiros graus em 1837.

    • É conhecido por possuir um sistema de Altos Graus que se estende até o Grau 33.

    • Em termos simbólicos, o REAA é muito forte e difundido nas obediências maçónicas portuguesas e, por extensão histórica, também em contextos como Moçambique.

    Maçonaria em Moçambique

    A presença da Maçonaria em Moçambique (anteriormente colónia portuguesa) tem ligações históricas com a Maçonaria em Portugal, principalmente através do Grande Oriente Lusitano (GOL).

    • É muito provável que o Rito Escocês Antigo e Aceite e o Rito Francês tenham sido os ritos mais praticados historicamente, dada a sua predominância em Portugal.

    • Existem referências de apoio do Supremo Conselho do Grau 33 para Portugal na instalação do Supremo Conselho de Moçambique, o que indica a prática e consolidação do REAA nesse país.

    • Algumas Grandes Lojas em Moçambique ou com relações no país podem também praticar o Rito de York ou outras variações rituais.

    Ambos os ritos são importantes na Maçonaria global. O Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA) possui uma forte e bem documentada presença em Portugal e, por extensão e apoio fraterno, em Moçambique. O Rito de York, embora mais associado aos EUA, também é praticado em certas obediências.

    Aqui está uma revelação concisa sobre esses dois ritos fundamentais:

    Rito de York vs. Rito Escocês (REAA)

    A principal diferença entre os dois está na estrutura dos seus Altos Graus e, em certa medida, na origem e foco ritualístico. Ambos trabalham os três primeiros graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom), mas com rituais distintos.

    Característica

    Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA)

    Rito de York (ou Rito Americano)

    Escala de Graus

    Possui 33 graus, sendo o 33º o Soberano Grande Inspetor Geral.

    Não é uma escala única, mas sim um sistema de corpos separados que complementam a Loja Azul.

    Estrutura dos Altos Graus

    Estrutura contínua e hierárquica de 4º ao 33º Grau, administrada por um Supremo Conselho.

    Sistema modular que inclui: Capítulos do Arco Real (Royal Arch), Conselhos de Mestres Reais e Seletos (Graus Crípticos) e Comandarias de Cavaleiros Templários.

    Grau Complementar Chave

    O 33º Grau é o ápice da estrutura e jurisdição do rito.

    O Arco Real é considerado o "cume da Maçonaria Antiga" e é essencial para o Rito de York.

    Origem e Difusão

    Sistematizado na França no final do séc. XVIII; Globalmente difundido, especialmente na Europa Continental e América Latina.

    Deriva da Maçonaria dos "Antigos" de 1751 e foi consolidado nos EUA; Dominante na Maçonaria norte-americana.

    Foco Ritualístico

    Foco na filosofia, história e moralidade, utilizando muitas alegorias medievais e cavaleirescas nos Altos Graus.

    Foco na continuidade da narrativa bíblica e histórica dos segredos perdidos da Maçonaria, em especial a reconstrução do Templo.

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    O Que Eles Têm em Comum?

    Apesar das diferenças na forma e estrutura, ambos os ritos compartilham os fundamentos essenciais da Maçonaria Universal:

    1. Crença em um Ser Supremo: Conhecido como Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.).

    2. Os Três Graus Simbólicos: Ambos operam os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom.

    3. Objetivo: Ambos visam o aperfeiçoamento moral, ético e espiritual de seus membros.

    Em resumo, o REAA oferece um caminho linear e filosófico até o Grau 33, enquanto o Rito de York oferece uma série de corpos independentes, mas complementares, que exploram o contexto bíblico e histórico da Ordem.

    Os elementos que você menciona

    bode, capuz na cabeça e juramento — estão ligados à cerimônia de Iniciação na Maçonaria e, em alguns casos, são o resultado de folclore e caricaturas externas sobre a Ordem.

    É importante separar o mito da realidade ritualística e simbólica.

    1. O Bode (Mito e Símbolo)

    A ideia de que o maçom "monta um bode" é um mito popular e uma caricatura que não faz parte de nenhuma cerimônia maçônica legítima.

    • Origem da Lenda: A associação do bode com a Maçonaria tem várias origens históricas, mas a mais aceita é que ela foi popularizada no século XIX, especialmente nos EUA, por grupos anti-maçônicos. O bode era usado para ridicularizar e acusar as sociedades secretas de práticas satânicas ou de iniciações bizarras.

    • Significado Simbólico (Interno): Embora a figura do bode não esteja na ritualística central, os maçons adotaram o termo "bode" ou "ser bode" de forma bem-humorada, associando-o ao silêncio e à confidencialidade. O bode (como o bode expiatório bíblico) era visto como um confidente mudo e seguro, que não revelaria segredos. Portanto, "ser bode" passou a significar guardar sigilo ou ser um membro leal da Fraternidade.

    2. Capuz na Cabeça (A Venda)

    O uso de uma cobertura na cabeça do candidato é uma prática real e essencial na fase inicial da cerimônia de Iniciação, mas é mais frequentemente referida como venda ou banda nos olhos.

    • O Que É: O candidato entra na Loja com os olhos vendados (ou com um capuz, dependendo do rito) e é mantido em um estado chamado de "profano" ou "em trevas".

    • O Que Representa de Verdade:

      • Cegueira Profana: Simboliza o estado de ignorância e erro em que a pessoa vive no mundo comum (o mundo profano).

      • Busca pela Luz: A venda representa que o candidato está em busca da Luz da Verdade, do Conhecimento e da Sabedoria, que a Maçonaria promete revelar por meio de seu método filosófico e moral.

      • Testar a Fé: A escuridão força o candidato a confiar em seu guia e na própria Ordem, testando sua perseverança e intenção antes que lhe seja revelada a Luz do Templo Maçônico.

    3. O Juramento

    O juramento é uma parte central e solene de todas as cerimônias maçônicas, não apenas na Iniciação.

    • O Que É: O candidato (neófito) presta um juramento ou compromisso solene perante o Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.) e a assembleia de maçons. O juramento é prestado sobre o Livro da Lei Sagrada (que pode ser a Bíblia, a Torá, o Alcorão, etc., dependendo da fé do candidato) e sobre o Esquadro e o Compasso.

    • O Que Representa de Verdade:

      • Compromisso Moral: É um compromisso de honra e dever de seguir os princípios morais da Maçonaria, de buscar a virtude e de se aperfeiçoar como ser humano.

      • Confidencialidade: É a promessa de guardar sigilo sobre os métodos de reconhecimento, as palavras e os rituais da Ordem, protegendo a integridade da sociedade.

      • Vínculo Irrevogável: Simboliza que, a partir daquele momento, o indivíduo está vinculado à Ordem e aos seus irmãos. O juramento transforma o "profano" em Maçom, marcando a sua reconstrução moral.

    Em suma, os ritos de iniciação são um drama simbólico que utiliza elementos como a venda (capuz) para representar a jornada do homem das trevas (ignorância) para a luz (conhecimento), culminando em um juramento solene que sela seu compromisso com a Ordem e seus ideais.

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